25 de abril de 2011

"Não acabarão nunca com o amor...

...nem as rugas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente."
(Vladimir Maiakovski)



"Amores serão sempre amáveis, futuros amantes, quiçá, se amarão sem saber" (Chico Buarque de Holanda)




Nunca ousei prender-me a citações de autores distintos a mim. Todavia, frente a turbulências emotivas, frente a tantos gritos perdidos ao vento, frente a lentidão de minhas pequeninas mãos, eis aí uma autêntica forma de expressão. Deixo apenas a confissão do meu medo do claro e do escuro, deixo apenas o meu silêncio que tanto precisava. Deixo, apenas e tão somente, meu constante juramento à conjugação do amor. (Mariana Lopes)

24 de abril de 2011

Encontros e despedidas

"A rasura que foi feita, foi perfeita na sua hora"




A cada desenlaço choramos mares, entorpecemo-nos, atrofiamos músculos a fim de enleá-lo consoante nossos anseios. No presente, prendemo-nos no passado com o puro objetivo do retorno, eterno retorno. A dor de uma paixão inoportuna é trasbordar-se em pura saudade, em sonhos irrealizáveis, ora, quanto mais impossibilitados, mais devaneamos, mais desejamos. Todavia, qual o objetivo humano senão vivermos só de amor?
Morrer em si de tanto amar é o primeiro sintoma do abandono que desencadeará na esperança e, como conseqüência, na sobra da falta do ser amado, idolatrado.
Dizem que quando estamos apaixonados cegam-se nossos olhos. Mentira! O coração é a visão da alma. Quando estamos desiludidos, perdidos no caminho desencontrado, sim, nossos olhos tampam-se com o martírio da solidão. E a única voz entoante: retorno, retorno, retorno (dele)...



Mas há o tempo. Enganam-se ao pensar que é o remédio para a alma. É a lição da despedida. Num dia atípico ao amanhecer, você, simplesmente, amarra todas as vivências encarceradas em balões de cores que você mesmo pintou e os solta. Da terra, com os pés no chão observa pontos resplandecentes de maturidade sobre o azul.
Todavia, não pensem que se cravar no chão é o começo de uma nova vida na mesma idade, é apenas o início de um fim- pricípio da partida.
Pois, assim, é a vida meus senhores: o eterno retorno. Há a rasura que combina perfeitamente com a origem da composição e quando, finalmente, desvencilhamo-nos de algo, algo já existe e os pés sobre nuvens já dançam. É o eterno compasso do amor que da despedida se faz o encontro.
(Mariana Lopes)

21 de abril de 2011

Raios desentendidos


A moça de cabelos não mais movidos por ventos de girassóis, caminhava pela rua às cansadas, entre vitrines e maniquins, quando deparou-se com um espelho e indagou com certa gota de ultrage:
_ O que são essas olheiras que tanto penumbram minha alma e aprofundam os oblíquos traços delineantes de meu rosto, já não tão singelo?
_ Não olhes para mim, querida dama, sou apenas reflexos de raios desentendidos. Olhes para ti e entenderás- entoou o espelho.






Com os olhos fechados, sorriu.

(Mariana Lopes)

Não mais que quatro meia-vidas


Aquela Senhora de quatro meia-vidas, de juventude lendária, cujos traços estavam sacramentados por cada poeira incubada em sua pele, segurava o rosário com um gesto tão pueril como se aquelas fossem uma de suas últimas horas de ar . Mirava cada pedra como se em suas mãos chumbadas de rugas estivessem cinquenta dias cristalizados. Não apelava por mais vivências, nem rogava por sonhos irrealizados, apenas, chorava pela vida já vivida.

(Mariana Lopes)

15 de abril de 2011

"Sinto a falta dele ...

...como se me faltasse um dente na frente: excrucitante"
[Clarice Lispector]





Ontem traí a mim mesmo. Fui dormir pensando em ti.Esqueci por um momento tentar te esquecer e te quiz. Quis-te em cada segundo dos meus sonhos e ainda te quero em cada milésio da minha vida. Puro sintoma de saudade.
Acabei caindo da cama,num trépido barulho da noite, acordei atônita comigo e mais um delírio de paixão dominava-me. Suava frio de ausência. O sangue que circundava meu corpo adornando-o de vida, incomodava-me como se houvessem grãos de areia transbodando pelos meus glóbulos, raspando em minha pele umidecida.
Custei a acostumar-me, não eram grãos de areia, meu bem; todavia, resquícios de ti que, ainda, preenchem-me.

(Mariana Lopes)

...Confesso que me faltam dentes!

3 de abril de 2011

Cadê o brilho?

Deparar-se com olhos opacos é o sinônimo da saudade que ronda uma alma solitária. É despossuir-se daquele brilho resplandescente e daquela calmaria estampada em seu coração quando o faz de conta que te amo, ainda, era uma convicção indubitável.
Saudade é arrumar a mesa para o café e imaginar-se colocando duas xícaras sobre esta e servindo,esmeradamente, aquele pedaço de bolo quente do forno feito para ele. Saudade é ver as lágrimas hibridar-se às gotas de chuva daquele domingo nublado. Saudade é sentir o abraço apertado e caloroso daquele dia frio por meio da sombra esvaída.
Os dias passam, o amor deposita-se sobre você mesma, as carícias guardam-se a sonhos e esperanças, o chá torna-se o seu calorífero. Os dias passam e você percebe que a sua ausência não doeu no eu dele. Como tal, você também percebe que chegou a hora de, finalmente, sorrir para o espelho.
(Mariana Lopes)





'Nunca mais se viram... e ela nunca mais foi a mesma' .