29 de dezembro de 2010

Espelho partido, sete anos de azar.


Tenho medo.
Medo de não sair deste abismo ao qual me encontro.
Acordo e procuro pelo sol, mas me deparo com a escuridão, a penumbra. Meus olhos mal se abrem.
Minhas pupilas dilatam-se à procura de luz, mas há falta de esperança.
Tento escalar as grutas que se ergueram sobre mim. Mas, ao final do dia, acabo caindo.
Minhas garras já não se encontram como dantes.
Minha saúde não corresponde às minhas vontades.
Qualquer hesitação se encontra esmagada.
Ralo-me em cada deformação pontiaguda que escorrego.
Rasgo a epiderme, restando-me apenas marcas desconhecidas... até, finalmente, estalar-me no chão.
Não se assustem com a dor, quase não faz barulho. Apenas ecos de sentimentos.
Um fino e estridente gemido, quase imperceptível aos ouvidos alheios, que andam tão distantes.
O fundo parece-me sem fim e caio, cada vez mais. Mais longe de mim.
Ralando-me, rasgando-me, estalando-me.
Meu corpo assemelha-se a um espelho partido.
Cada sorriso é pela metade. Cada olhar é em partes.
Para cada gesto meu toque se torna mais e mais leve.
Meus pés já não caminham juntos. Descaminham.
É uma mistura de cartas, de peças, um hibridismo puro entre o querer e o poder.
Entre a harmonia e o desespero.
Aos poucos, junto cada pedaço.
Aos poucos, tento reconstruir-me.
Sei que nada é como antes.
Será apenas um remendo.
Mas todo remendo, por ser distinto do que era, originará um novo eu.
Um espelho completo ei de descobrir em mim, com luzes eternas ao meu redor.
Inteira serei.

(Mariana Lopes)

23 de dezembro de 2010

Sobrenome

O Ultra-romantismo sempre se fez meu sobrenome.
Não pela ânsia da morte ou pela satisfação que esta poderia trazer aos meus devaneios.
Porém, pela atração ao lirismo da liberdade.
Pelo apego aos sentimentos mais profundos sem exitação de serem usufruídos, sem a cautela de serem duvidosos.
Sim, pela realeza da profundeza.
Pela profundeza do ser.
Pela profundeza do amar.
Pela profundeza de viver.
Pela profundeza de se doar.
Pelo puro e extremado exagero.
Sei que tempo nós temos,
A água é que corre , o rio continua lá.
Mas tenho a urgência em sentir, em querer.
Em te querer.
Ei de me purificar de tamanha demasia.
Derramá-la-ei em ti.
Não por meio de meu cândido toque ou pelo fulgor de minhas carícias ou pelo meu transvestido romantismo.
Mas pela intemperância de alimentar meu vício.
Mas pela minha ânsia em te manter eternamente presente em minhas lembranças.
Fixado na minha teimosia em aceitar as encruzilhadas do destino.
Fixado em mim, ei de estar profundamente.
No sobrenome de cada recordação, de toda lembrança revivida.
Ei de estar.
(Mariana Lopes)

21 de dezembro de 2010

Lembranças


Ao assistir a um filme cujo personagem principal é Robert Pattinson, comecei a meditar sobre certos preceitos. Se seguirmos a mensagem do filme , o sub título já a responde: “A vida é feita de momentos”. Sim, a vida é um filme terminável , feito de cenas, personagens e um final.
Não me perguntes se a vida é um filme com final feliz, pois isso, sinceramente, eu não saberei responder, quiçá tenha alguém que saiba.
Porém, assim como diria Shakespeare : “A vida é uma peça de teatro sem ensaios.”
Isso é o que me parece mais difícil de lidarmos.
Sonhamos com final felizes, fazemos planos, opções . Todavia, por mais que saibamos que nossa vida é única, que não se banha duas vezes no mesmo rio, insistimos em delinear mentalmente que nossas escolhas têm volta . Somos insistentes conosco.
Não. Elas não têm e culminarão sempre em uma perda. São fatais.
A própria forma como se vive consiste em uma escolha: ou se vive com parâmetros, projetos para o futuro ou se deixa levar pelas sensações momentâneas.
É tudo uma questão de viver.
“Cada qual com o seu cada”, cada qual com sua vida, cada qual com os seus motivos.
Convenhamos, o que me impressionou nesse filme- estilo sessão da tarde- não está atrelado ao ator por fazer parte da saga Crepúsculo. Não sou nenhuma fã alucinada, por favor.
No entanto, confesso que o personagem me agradou, identifiquei-me com ele. Pelo seu jeito intrínseco, com poucos amigos, isolado pela pleura de seus pensamentos, com uma bela queda por livros, sem muitas expectativas para cada dia, aposentado de qualquer experiência nova, mas que acaba caindo em buracos por pura distração, por pura brincadeira do destino.
Teve a sorte de nunca escorregar em orifícios profundos; mas em sentimentos reentrantes que sempre o cercava. Como se o seu eu fosse um saco descosturado onde carregasse todas as emoções sem se queixar: as dele, as de sua namorada, as de sua irmã, as de seu amigo.
Justificado como um coração nobre, generoso.
Além de ser atraído por deuses gregos , pela balança da justiça, pela lembrança de cada pessoa que cravou a sua vida. Possui peculiaridades não muito expressivas, na realidade, pouco compreendidas, pois as pessoas preferem os extrovertidos, afinal, dão o mundo para explicitar a todos o que se sentem. Não, Tyler Roth, não era destes. Era fechado em si, em seus escritos. Era intenso.
Felizes os que tiveram a sorte de entrar em sua vida, de senti-lo.
Pois o que mais moveria um coração generoso senão o amor?
Sim. Ele era feito de puro amor.
Bom, assim como na vida, o filme terminou com a penumbra. Seus olhos se fecharam devido a um fenômeno americano.
Todos indagarão, ele não devia estar lá , é tudo culpa de seu pai.
Sim, ele devia estar.
O espetáculo da vida vai até o final da linha, nunca se para no meio da peça.
O fim é sempre o fim.
Para concluir, além de comentários escrupulosos, além de citações literárias, eu não poderia terminar o texto sem deixar como ditame a frase mais célebre do filme:
“Qualquer coisa que você faça na vida será insignificante, mas é muito importante que o faça porque ninguém mais o fará”. (Gandhi)

É mais que uma frase, é uma teoria. Viva!



Acabou a linha.
(Mariana Lopes)

17 de dezembro de 2010

La justificación de la soledad


- ¿Por qué sólo esos?
- Mi sombra me hace compañía.
- Y los demás?
- Yo prefiero creer que no me ha visto por aquí.
(Mariana Lopes)

6 de dezembro de 2010

Armação dos Deuses

Havia uma moça , seu nome era Jadfs. Vivia em Neápolis, na Grécia.
Seus pais, mais velhos, viam-na como um tesouro que cintilava em suas vidas. E ,como toda pedra preciosa é possível de se partir com uma leve queda, eles deviam mantê-la presa. Isso, presa. Para que ninguém a cobiçasse nem a tocasse.
E, assim, fizeram.
Em um cômodo, no fundo do quintal , prenderam Jadfs com finas cordas . Não era preciso muitos equipamentos para segurá-la, era tão inocente que linhas de tecido prendiam seus dedos a fio.
Ela cresceu . As cordas curvavam-se conforme os contornos de seu corpo, mas ainda continuavam suficiente para mantê-la presa segundo a tranqüilidade de seus genitores. Segura de qualquer ser estranho que pudesse detê-la.
Tinham medo que se machucasse, que se iludisse, que amasse.
Esta menina, esta garota, esta moça,esta mulher –ora, podia ser denominada como tal, pois ela já não tinha a mesma inocência desde de que surgiu do ventre materno, a lei da natureza torna-nos adultos, mesmo quando crescemos contra o próprio destino- esta aí, não conhecia o mundo.
Seu mundo era o seu próprio pensamento,a sua própria imaginação. O único ser que conhecia era o celeste Sol, sua eterna admiração. Até da Lua a privavam, afinal, ao entardecer, era hora da criança dormir. Lobisomens perambulam pela noite.
Num dia, como outro qualquer, ou melhor, era para ser como outro qualquer. Seus pais saíram pela manhã, foram à missa como de costume do domingo e lá ficou Jadfs, como também de costume, acompanhada consigo mesmo naquela jaula . Naquela jaula daquela casa. Aquela Casa como tantas outras. Naquela Cidade, Neápolis, como tantas outras.
Porém, aquela Cidade não era de um país como tantos outros, pertencia ao país de raízes mitológicas. E o que ninguém desconfiava era que aquele ser preso pelas forças familiares, tinha um destino livre. Ao nascer, os deuses a consagraram e Afrodite, deusa da beleza e do amor, a reincorporou na noite de seu nascimento durante o encontro de Vênus com a Lua.
Mas quem é que se preocupa com seres astrológicos?
As pessoas vivem enquadradas em seus próprios preceitos e em suas próprias verdades, ditas verdadeiras.
Enfim, nesse dia, um caixeiro viajante metido a poeta passeava pela cidade , pedia comida, abrigo, mas continuava só, com sua própria sombra. Bateu palma na casa de Jadfs, ninguém atendeu e ,sem saber o porquê, insistiu nas palmas. Nada.
De repente , ouviu um som diferente que lhe despertou um sentimento desconhecido e, sem dar por si, atravessou o jardim, como um invasor inexperiente .
Apenas, guiado pelo som .
Encontrou o cômodo, o cômodo que estava Jadfs e seus olhos se cruzaram por uma fresta de madeira descascada. Vislumbrado ele ficou. Afinal, os olhos dela refletiam toda a transparência de um ser esquecido, de um ser cheio de vida, de amor, de esperança...de sonhos.
Quando percebeu, havia se passado horas e horas e seus olhos não se desencontravam. Foi o barulho do motor do carro vindo da igreja que os despertaram daquela súbita sensação. Ele se apressou e correu pela rua a desaparecer, porém, seu coração já estava preso, não pelas cordas de Jadfs, mas pelo encanto de seu olhar.
Uma paixão oculta, já iniciada.
Depois daquele dia, ela definitivamente deixara de ser aquela menina iludida, ela conhecera algo mais que o Sol. E ,assim, todos os domingos pela manhã, seus olhos passaram a ter um encontro sagrado , armado pelos Deuses.
Com o decorrer do tempo, seus pais até desconfiaram de algo, mas as emoções ,geralmente, passam despercebidos por aqueles que vivem com a objetividade do dia-a-dia, há coisas que estão distantas de qualquer aparência, qualquer superfície, é muito mais intrínseco.
Aqueles encontros pela fresta tornaram-se insuficiente, seu ego pedia mais emoções, pedia outro ar,o ar daquele que a esperava pelo lado exterior. A partir desse momento, aquelas finas cordas, tornaram-se finas demais e , durante uma noite -o horário proibido para qualquer criança- enquanto seus pais dormiam serenamente confiantes na presa, ela desamarrou com seus delicados dedos cada nó delineado em seu corpo.
Confesso que seus olhos estranharam aquela escuridão sombria da noite, mas havia o brilho das estrelas, ademais, o olhar conhecido a esperava.
Naquela noite, a Lua encontrou-se novamente com Vênus, e o amor e toda beleza de uma paixão despejados por Afrodite foram desfrutados. A lei da natureza foi obedecida, a lei dos deuses festejada.
Eras mulher, eras amante, eras amada.
Nenhuma corda, nenhuma prisão, nenhuma armadilha pode afrontar ao destino.
Nenhuma corda, nenhuma prisão, nenhuma armadilha, nenhum genitor pode afrontar ao amor.
Quando voltou ao alento pela manhã com toda a coragem para iniciar a sua vida, a sua vida, não a vida que haviam planejado. Seus pais a esperavam horrorizados, mas preparados, armados.
Agora as cordas eram muito mais grossas, havia armadilhas espalhadas canto a canto, qualquer fresta foi tapada. As flores que adornavam o cômodo foram substituídas por cadeados.
E o seu ego que ,antes, fazia-se de coragem, estava repleto de dor, decepção, mágoa.
Lágrimas atrapalhavam o encanto resplandecente de seu olhar.
E o que aconteceria agora?
Ela conseguiria desamarrar-se?
Ele a resgataria?
Seus pais se redimiriam?
Jadfs só queria uma resposta de seu destino.
Porém, uma certeza ela tinha, os deuses a ajudariam. Todo seu amor , sua beleza foi consagrada para aquele olhar, para aquele homem, para aquele viajante desconhecido.
Nenhuma corda, nenhuma prisão, nenhuma armadilha pode afrontar ao destino.
Nenhuma corda, nenhuma prisão, nenhuma armadilha, nenhum genitor pode afrontar ao amor.
(Mariana Lopes)

18 de novembro de 2010

Verso solto


Ontem, morri sem saber.
Acordei infinito, continuei a viver.




(Mariana Lopes)

31 de outubro de 2010

Pena, pluma, leve

Aquilo estava em mim.
Não, não podia!
Incomodava-me.
Até que era um tanto quanto atraente.
Mas Não!
Incomodava-me!
Tentava esvair-me disso,
Como se minhas mãos coubessem nos minuciosos espaços de minhas veias cerebrais.
Ocupei-me com músicas . Nada adiantou!
Procurei os livros, fórmulas, nomes científicos! Nada, nada!
Diverti-me com Quizes. Fui Alice, Princesa, Coruja , Afrodite (confirmando meu signo),Greta Garbo, Jadfs.
Por fim, fui eu...E Nada adiantou. Nada!
Continuava incomodando.
Não queria Sol. Não queria chuva .
Deitei. Circulei pelo mundo dos sonhos, da imaginação, do inconsciente, das flores astrais .
Meus passos eram rápidos , acelerados. Não queria nem podia encontrar ninguém por lá.
Há coisas que só cabem a mim. Só!
As cortinas foram fechadas.
Meus olhos abriram, delicadamente.
Lavei meu rosto.
Gotas, gotas , gotas
Ah, estava mais leve!
Pena, pluma, leve
Olhei o céu. Azul. O Sol fazia-se radiante.
Agradou-me.
(Mariana Lopes)

30 de outubro de 2010

Poeira


Este vazio que me preenche, ocupa todo espaço, me consome por inteiro . Meu eu é só vácuo...vácuo que me suga para dentro de mim mesma, mas não me leva a lugar algum, sempre os mesmos móveis... quiçá,
um grão de poeira a mais. (Mariana Lopes)

23 de outubro de 2010

A Sorte chegará? L'amour ça ne va pas


Eu cresci com o ideal romântico de encontrar um amor, um amor verdadeiro, como em filmes hollywoodianos. Afinal, o que custa-nos acreditar em coisas que só podem ser boas- essa é a demonstração mais magnífica das listas dos 10 pecados sentimentais.
Como o Amor poderia não ser bom, não é?
Não, não é. Custa-nos( chocalates, lenços e uma leve dor cardíaca).
Só é para os que tem a sorte de possuí-lo.
Entre os azarados, fazem parte os sonhadores, as tias encalhadas, os boêmios e eu.
Alimentamo-nos com a esperança, mas não nos preeche.
Somente aumenta o desejo de experiências verdadeiras, profundas...concretas.
É, a realidade é outra, meu bem. O mundo é dos sortudos, não dos amantes.
Portanto, ao olhar os casais nos parques, namorados no cinema ,noivos entusiasmados ; resta-nos duas opções : Ora, conformamo-nos com a nossa situação –sozinhos ou rodeados de sentimentos carnais , nunca correspondidos essencialmente- desejando-os felicidades e estampando um sorriso de meia face disfarçado.
Ora, sadisfazermo-nos com a esperança, com os pensamentos noturnos,com sonhos e amores platônicos, até não morrermos inconformados , iludidos; porém, talvez, nosso estômago seja paciente e resolva esperar um pouco mais.

Quem sabe a sorte chegará!

Mais l'amour, hum hum, pas vraiment! C'est une embuscade!

24 de setembro de 2010

...havia uma Dália




Havia uma Dália no meio da Rua...
No meio da Rua...

Ocasião

O homem é feito de decisões.
Nelas incluem as suas escolhas, ocasiões ou preferências.
As suas escolhas são baseadas nas preferências ou ocasiões.
As preferências , pelas ocasiões ou influências.
E a ocasião? Do que depende?
Somos nós que a fazemos?
Ou somos simples instrumentos desse tempo determinado?
O que se faz quando não é a hora certa nem a pessoa certa ,
Quando as influências sobressaem a suas preferências?
Tenta tornar a situação aceitável?
Mas, e se nem você está a seu favor?
O que fazer?
Como saberemos, não é mesmo?!
É! O homem é limitado, é condicionado.
Sem virtudes e sem fortuna, no dito maquiavélico.

20 de setembro de 2010

Água Vazante

As lágrimas são uma forma explícita do que se sente; que dói e dói.
Mas e quando não há nada em seu interior?
É um efeito artificial de algo feito só para aparências?!
Deve ser a compressão de si sobre si mesma.
O vazamento de alguma essência oculta.

Água, pura água vazante.

17 de setembro de 2010

Caminhada no Lago



"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”.
(Rubem Alves)








Prefiro acreditar que meus pequenos dedos podem segurá-lo, ou não.

13 de setembro de 2010

Maldita razão

Acordei e ao abrir meus olhos, subitamente, fechei-os.
Não conseguia olhar para o Sol.
Evitei meu olhar,
Evitei olhá-lo.
Toda proteção era em vão , o Sol me acompanhava .
Minha pele queimava.
Como ardia!
Fui-me derretendo, derretendo...
Ah, como às vezes, eu sinceramente odeio fazer parte dessa tal raça humana - talvez a única coisa que eu consiga não aceitar.
A razão me consome -isso não me agrada.
Como eu queria poder voltar à noite,
Voltar à sombra.
Os raios continuavam a perfurar-me.
Rasgavam-me...
Ardia!
Fui-me derretendo, derretendo...
Maldito Sol!

12 de setembro de 2010

Nada além de algo

Lucia era o tipo de filha adorável, tipo de amiga invejável, estava sempre cercada por colegas, mas eram apenas pessoas. Ninguém a compreendia, nem ela... a ela mesma.
Sua casa era cercada por flores, talvez essa seja a origem de sua doce essência. Á tarde, depois das tarefas e afazeres domésticos, sentava-se debaixo duma árvore, analisava o céu tentando compreender algo da terra. Mas tudo parecia tão distante , as árvores eram grandes, as flores pareciam não aceitá-la no jardim e o céu,longe... Muito longe. A única coisa que queria era algo para a ouvir, não precisava ser um alguém, algo que sentisse a sua falta e não só por quem fosse admirada.
Numa manhã, quando acordou, havia uma plantinha, no meio do campo, voltada para o sol e desde o primeiro momento ela percebeu que aquilo era o algo que ela procurava. Assim, os dias passavam, a plantinha crescia e finalmente tivera a concepção de se sentir a vontade frente a ela, encontrara o algo a mais do que só pessoas. A sensação de ser completada.
A bela garota ia à escola, mas não via a hora de chegar ao seu lar a fim de conversar com o seu pequeno arbusto, sob o ardente calor solar. Estava cada vez mais deslumbrante, cada vez mais alimentado. Era de causar inveja a qualquer flor.
Porém, ao amanhecer de um dia -um dia chuvoso- sua plantinha já não lá estava. Lucia olhou várias vezes para o jardim, na tentativa de lhe faltar visão.Não!
Custava-a acreditar.
Mas ela compreendeu: “Tudo que surge de repente, vai-se de repente. Não sabemos até onde ou quando aquilo nos pertence, talvez algo seja para sempre, porém isso foge a nossa compreensão, escapa das nossas certezas”.
Quiçá tenha sido apenas uma alusão, um desejo explícito.
Nada além de algo.

(Mariana Lopes)

6 de setembro de 2010

Um brinde ao destino

Não sei se é destino, ou mero acaso, ou pura coincidência...
Mas como ele mesmo me disse, há coisas da qual não podemos fugir.
Surge assim, não mais que de repente, com um simples comentário transformado em conversas, encontros e sentimentos.
Será que nossos signos combinam?
Numa tarde nublada, sob o cinzento céu , no banco da praça ele me diz coisas bonitas que se misturaram com o vento e minhas palavras soltas, pouco explícitas, junto as dele, dissolvidas.
Fui-me embora...
Todavia, viro-me para trás e meus olhos ficam perdidos pela rua.
Os olhos que antes ele pedira para desviá-los.
Não o encontro.
O céu faz-se mais escuro; o sol faz-se mais tímido.
Sol, girassol .
Não mais que uma flor , sem perfeição alguma.
(Mariana Lopes)

18 de junho de 2010

Mundos e gotas


Gotas sobre o meu corpo, não são lágrimas, nem chuva, mas é água...tão pura, tão transparente.
Que vontade de permanecer ali, longe ...apartado de todos e de tudo, só, com a água.
Presa com meus sentimentos como numa caverna; todavia, livre, onde eu poderia viver todos os meus sonhos, amores e vícios platônicos...
mas o mundo das ideias me espera, a sociedade me intimida...

Saio, a água torna-se lágrimas, não há mais sol.
Procuro , procuro e só encontro pessoas, mas e as essências?
O mito da vida foi esquecido, os sentimentos e valores permutados.
Tudo está tão sórdido, tão opaco...

Oh mundo inteligível, onde se encontram os humanos, os ditos racionais?

(Mariana Lopes)

28 de março de 2010

Sombras da noite eterna


Á noite tudo parece perfeito, tão fácil, vêem-me àquelas alusões que no momento soam verdadeiras, talvez verdadeiras só a mim. Mas à luz clara do dia desfizeram-nas; voaram como sombras, tudo se tornou tão distante , talvez real.
(Mariana Lopes)

14 de março de 2010

Certezas incertas

"Gosto de certezas certas,
De atitudes concretas,
Palavras são muito abstratas.
A única incerteza que compreendo é a minha,
Mas essa existe pelos fatos decorrentes.
De mim, sei o que quero;
Dos outros, nem sei quem são,
Muito menos o que realmente querem de mim.
Gosto de olhar o céu
e admirar a Lua, as Estrelas...
Gosto da música ao fundo,
Da melodia que me preenche.
Gosto de seu toque,
mas está cada vez mais distante...
A minha mão, sem a tua, já se encontra perdida.
E minha única certeza é o que sinto.
O resto são inconstâncias ."
(Mariana Lopes)

Meus olhos

Ah os meus olhos,
Tão pesados, tão profundos
Como um poço sem fundo .
Atentos ao mínimo movimento alheio,
Minucioso aos detalhes.
Mas basta um fluído percorrendo as finas veias desse corpo, antes esquecido,
Para se fecharem ao mundo.
Tudo passa a viver aqui, bem aqui.
Dentro de mim e mais nada.
(Mariana Lopes)
É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão poerfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.
( Clarice Lispector)

Definição do eu


Procurei a definição no dicionário , quiçá por não poder me definir ou mera indiscrição ,e essa me agradou : um modo de existir . Cada qual existi a seu modo; o meu , tento traçar com o passar dos dias. Fujo do presente ,por pura incompatibilidade da tal realidade, para um passado idealizado ou um futuro utópico e lembro-me desse dito de mesma autoria : “Passado virou futuro , o futuro presente , e o presente ficou ausente com algumas nostalgias do passado.Antes do ontem vem o depois, quem é se preocupa com o que já foi ? Se as conseqüências chegarão amanhã. Quem se importa com o agora , se o tempo já passou? Tudo passa , tudo chega .O sol se põe e nasce a Lua.”
Olho pela janela e ,verdadeiramente ,a Lua lá está com suas belas estrelas confirmando a realidade .Todavia, buscarei perpetuamente por uma auto definição seja no ontem , no hoje ou no amanhã.
(Mariana Lopes)

O mar da vida

Somos simples areias movidas pelo vento,
Às vezes, nos levam longe, nos aproximam...
Voltas e voltas pelo mar...
Fim e recomeço,
Esperanças e desilusões
Persistência...
Tropeço sem volta,
Fim e fim.
A areia se desfaz,
E o mar vira céu.
(Mariana Lopes)

Solidão acompanhada

Sozinha, sozinha, sozinha
Sempre ao lado, nunca junto.
Mas não me sinto só, sinto-me distante.
Longe, longe, longe...
Uma casa pouco visitada.
Meu eu, meu Deus e o abraço materno fazem-me companhia
Mas os outros, não há os outros...
Somente eu.
Lá no canto, com um livro na mão.
(Mariana Lopes)

Lembranças

Surge do nada, comentários vão-se , conversas vem-se junto algumas belas melodias e convencem...o coração já a mim não mais pertence. Um doce e mais meras palavras com as mão entrelaçadas , andamos sob o céu azul e aquele sorriso dentro de mim, era felicidade querendo sair.Foi bom até aí , depois ... alguns dias se passaram com mais algumas palavras até que minha ausência é substituída por recados desconhecidos, desconhecidos de mim, tento fechar e abrir os olhos novamente, mas não estou sonhando, ou melhor, tudo que ocorreu antes era um sonho, uma ilusão, agora a realidade ressurgiu...doeu.
Não queria explicações , mas soube os motivos sinceros, e foi-se ...
O meu novo e velho amor foi embora e eu fiquei.
Meu coração ainda não se acostumou com a ideia de que nossos olhos nunca mais se cruzarão, pois os dele tomaram outra direção ... E os meus , olham para todos os lados, e não acham o que meu coração teima em procurar. Está longe, longe de mim ...longe da minha visão...do meu coração.
(Mariana Lopes)